quinta-feira, 29 de março de 2018

Você já jogou...? VA-11 Hall-A: Cyberpunk Bartender Action


"Time to mix drinks and change lives"

Em um futuro próximo, existe uma cidade distópica onde grandes corporações dominam o governo, e a população, oprimida, luta para sobreviver a cada dia. Nessa cidade há um pequeno bar chamado VA-11 Hall-A, apelidado Valhalla, que é visitado por pessoas que buscam uma bebida, um pouco de alento e, talvez, uma conversa amiga.

Não tenho tido muito tempo para jogar ultimamente, mas fico feliz quando encontro algumas pérolas como esta. Este jogo inusitado apareceu em minha lista de recomendações da Steam e, após ler sua descrição e alguns comentários, resolvi comprá-lo. Foi uma ótima decisão. Adoro jogos independentes e diferentes, pois acho que eles trazem experiências únicas e muito mais autênticas.


"Cyberpunk bartender action" é o subtítulo do jogo, e ele é exatamente isso: em um cenário cyberpunk, entramos no papel de Jill, uma bartender no VA-11 Hall-A, onde você recebe clientes, ouve seus desabafos e prepara drinks para eles. Diferente de outros jogos de "culinária" frenéticos, como Overcooked, este jogo é praticamente uma visual novel, com a diferença que ao invés de fazer escolhas de diálogo, suas escolhas se limitam a fazer diferentes bebidas para seus clientes. Pode parecer monótono, mas acredite, conhecer pessoas e suas histórias é sempre uma experiência única.

Ao iniciar o jogo pela primeira vez, um aviso diz para apreciá-lo com tranquilidade, com bebidas e petiscos. Segui as orientações ao jogar, abrindo uma cerveja e apreciando os diálogos bem escritos e os personagens extravagantes e fascinantes, e fiquei muito satisfeito ao fazê-lo.

O visual é caprichado, com belos desenhos dos personagens e cenários e um estilo gráfico retrô moderno que remete aos tempos dos jogos do antigo PC-98, computador popular no Japão. A trilha sonora composta por Michael Kelly também é excelente, criando uma atmosfera cyberpunk, mas ao mesmo tempo acolhedora, como o bar.


Mas, sem dúvida alguma, são os diálogos que fazem este jogo brilhar. Sob a pele de Jill, conhecemos sua cidade, Glitch City, e a si mesma e seu mundo apenas através das conversas que tem com os diversos tipos de clientes que passam pelo estabelecimento. Por meio dessas pequenas trocas de ideias e sentimentos, começamos a entender esse universo e a nos sentir parte dele, e os personagens ganham profundidade e desenvolvimento. Achei essa abordagem muito imersiva e bacana e os diálogos muito bem escritos, embora por vezes um pouco caricatos.

Os personagens também são fantásticos. É difícil não se identificar com alguns deles, tão humanos como qualquer um de nós com suas qualidades e defeitos, vivendo um dia de cada vez. Pelo menos para mim, diria que foi uma experiência até intimista.

Além disso, outro ponto que achei muito positivo é que são tratados diversos temas polêmicos, como sexualidade, prostituição e corrupção no governo, de forma muito natural. Achei muito legal como esses temas foram abordados de modo que não ficasse forçado nem exagerado.


Desde o momento em que comprei o jogo, tinha certeza de que era japonês: o estilo, a estética, tudo apontava para um típico jogo nipônico. Qual não foi minha feliz surpresa quando pesquisei e descobri que os desenvolvedores não são japoneses, mas sim venezuelanos, nossos hermanos. Quando vi isso, criei ainda mais respeito pelo jogo e contextualizei algumas das críticas sociais nele contidas.

Se tivesse que fazer uma crítica, seria que não há muita replayability. Depois que você termina uma vez e quer ver os finais diferentes, pode ser um pouco tedioso passar por tudo novamente, refazendo todos os drinks só para poder ver os diferentes desfechos. Fora isso, apreciei cada momento que passei com este jogo.

VA-11 Hall-A não é um jogo para todos. Mas, se você gosta de uma boa narrativa, cyberpunk ou não, dê uma chance. Como um bom livro, separe um tempo para relaxar, tome uma boa bebida, coma algum petisco e conheça esse universo e os interessantes e estranhos clientes desse bar. No mínimo, você vai ouvir algumas boas histórias.



Ficha técnica