sexta-feira, 21 de abril de 2017

Você já jogou...? Undertale



 
Sei que já se falou muito sobre esse jogo na internet, talvez até demais. Mas, agora que terminei de jogá-lo, senti que ele merece todos os elogios e muito mais. Senti que tenho que expor minha opinião.

Undertale é fantástico, brilhante, amável!


A história inicial é bem simples: você é uma criança humana que caiu no Subterrâneo, para onde os monstros foram exilados em um passado remoto e agora habitam. Agora, você busca uma forma de voltar à superfície, enquanto interage com persoangens tão variados quanto esqueletos comediantes, cachorros cavaleiros, um robô popstar, entre muitos, muitos outros.

A grande premissa deste RPG é que você pode escolher entre destruir seus inimigos ou deixá-los seguirem suas vidas. Toda batalha pode ser vencida sem matar uma criatura sequer. Essas escolhas moldarão o seu caminho e o desenrolar da história.


Toby Fox, o autor principal, fez um trabalho espetacular. Em um pequeno jogo que pode ser finalizdo em algumas horas, desenvolveu personagens extremamente cativantes e uma narrativa simples, mas instigante e interessante.

Undertale é, a princípio, um jogo leve, cheio de situações e inimigos(?) muito inusitados e divertidos. Não costumo rir em jogos, mas este me fez rir em diversas ocasiões. E vou fazer uma confissão aqui: quase nunca havia chorado em um jogo, mas este me tocou de tal forma que em um certo momento não aguentei.


São os personagens e os diálogos que tornam este jogo tão extraordinário. O senso de humor excêntrico e a escrita excelente tornam cada encontro e reencontro memorável. A atenção aos detalhes e o esmero despendido em cada situação é gigantesca. Joguei como se estivesse lendo um bom livro, apreciando cada passagem, fala e momento. Não tenho como enfatizar o suficiente o quanto os personagens são cativantes.


As batalhas são uma atração à parte. Depois de cada ataque do protagonista, ocorre uma pequena sequência parecida com um shooter danmaku onde você tem que desviar dos projéteis de seu adversário. Achei muito interessante e criativa a forma como esses ataques realçam e enriquecem ainda mais a personalidade de cada inimigo.

A trilha sonora, composta inteiramente por Toby Fox, é fantástica e atmosférica, parte indissociável da obra, complementando perfeitamente os momentos em que é utilziada. Assim como os demais elementos do jogo, as músicas lembram os antigos jogos da era dos 16 bits, com sons sintetizados e ótimas melodias que ficamos lembrando depois.


Outro ponto de interesse é a clara influência da série Mother (mais conhecida como Earthbound). Os gráficos simples e expressivos remetem imediatamente ao clássico cult da Nintendo, mas não somente eles - a própria atmosfera do jogo, cheia de irreverência e um tom amistoso, também é muito parecida. Em certos momentos, senti até uma certa vibe de Yume Nikki, RPG experimental dos anos 2000 famoso por sua atmosfera surreal e aterradora.

Arte por Hetiru (link original)

Se tivesse que fazer uma única crítica a esse jogo fantástico, seria que ele é curto. Gostei tanto que gostaria que durasse um pouco mais. Não sei se consegui expor o quanto gostei deste RPG, o considerei um dos melhores jogos, independentes ou não, que já joguei. Undertale é uma experiência única e inesquecível, um jogo que tem coração.

Se você é fã de jogos de RPG, principalmente se está procurando algo diferente e tocante, jogue! Jogue com determinação! Você não vai se arrepender.



* * *

SPOILERS ADIANTE!

(Não passe o cachorro se não viu o final verdadeiro!)








Para os curiosos, a parte em que chorei foi na batalha final do caminho pacifista. Depois da revelação surpreendente de que Flowey era Asriel, começou a batalha final mais épica e emotiva que já experienciei, acompanhada pela melhor música do jogo (desculpe, Megalovania).

Enquanto lutava desesperadamente pela minha vida e tentava salvar tudo pelo que havia lutado no decorrer do jogo, eu morri. O coração se partiu. Por um instante, achei que teria que recomeçar a batalha. Mas, para minha surpresa, o coração se uniu novamente, com a mensagem "But it refused". Senti um arrepio. Foi uma das mensagens mais poderosas do jogo. Eu não podia morrer agora, minha determinação se recusa a morrer! O destino daquele mundo e dos amigos que conheci nele estavam em minhas mãos!

A luta exaustiva seguiu, e Asriel se transformou para mostrar seu verdadeiro poder. Nenhma ação era possível. Nada mais surtia efeito. Até que o protagonista se lembra que poderia tentar SALVAR o jogo, mas nem mesmo isso funcionou. O jogo traz a mensagem: "Seems SAVING the game really is impossible. But... Maybe, with what little power you have... You can SAVE something else.". E então você entende que pode salvar seus amigos que tiveram suas almas absorvidas por Asriel.

Nessa hora não aguentei. Enquanto a mesma música fantástica do início da batalha volta a tocar, você chama a alma dos personagens que conheceu e com quem fez amizade no decorrer do jogo, relembrando as lembranças que criou com cada um deles, teantando fazê-los se lembrarem de quem são. Foi a sequência mais tocante do jogo para mim, lágrimas escorrendo enquanto sentia o quanto cada vivência e cada experiência passadas com esses personagens amáveis foram marcantes e culminaram neste momento. E, finalmente, uma última alma é salva...

É, definitivamente, uma das melhores batalhas finais de todos os RPGs.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Você ja leu...? A Metamorfose


Após uma noite de sonhos agitados, Gregor Samsa, um caixeiro viajante que leva uma vida monótona, se vê transformado em um enorme e monstruoso inseto. Esse é o ponto de partida de A Metamorfose, um dos mais famosos livros de Franz Kafka, escritor alemão do início do século XX.

A história mistura o realismo à elementos fantasiosos e absurdos. Mesmo após sua medonha transformação, Gregor mantém sua consciência humana, presa em corpo de barata, até o fim. Apesar de suas boas intenções e de ter sido o sustento de sua família até então, o ex-caixeiro viajante se vê execrado e exilado pelos próprios familiares. A situação financeira da família Samsa, agora sem seu principal provedor, é posta em xeque, e seus membros têm de se adaptar para continuar sobrevivendo.

No início da leitura me perguntava por que nem o personagem principal, nem seus familiares, questionavam sua terrível metamorfose, mas entendi que isso não era importante; o importante é que Gregor agora era um inseto gigante. E, assim como o protagonista vai se resignando à sua condição de sub-humano, de criatura rastejante e assutadora, o leitor também vai aceitando que o que se passa é "verdade". Achei triste a forma como Gregor deixa de ser uma pessoa para se tornar um estorvo a ser resolvido.

A Metamorfose é um livro curto, uma leitura rápida, uma das grandes pequenas obras de Kafka e de inúmeras interpretações. Relata a luta de uma família comum de classe média em face de uma situação absurda e extrema, e a degradação de uma pessoa ante a alienação e a execração social. Recomendo.

sexta-feira, 3 de março de 2017

Você já leu...? Por que fazemos o que fazemos?


Por que fazemos o que fazemos?

Essa é uma pergunta que atualmente aflige cada vez mais pessoas, especialmente em relação ao trabalho. A busca por uma motivação maior além do salário e de um emprego tranquilo está crescendo a medida que a nova geração, nascida nos anos 80 e 90 e fortemente digital e conectada, chega ao mercado de trabalho. É o meu caso, e foi a motivação para que eu lesse esse livro.

A linha central do livro é uma discussão sobre a relação entre as pessoas e seus trabalhos, e como a noção de valor e propósito profissionais se tornou mais complexa nas últimas décadas. A realização profissional é algo que voltou a ser uma preocupação. Não queremos apenas trabalhar para ganhar dinheiro, queremos um trabalho que tenha propósito, que tenha retorno social, um trabalho em que realmente acreditemos.

Algumas das principais ideias apresentadas são:
  • Não devemos ficar alienados em nosso trabalho, no sentido de nos tornarmos robôs automatizados, sem envolvimento, sem pensamento crítico, sem indagações, porque assim perdemos a nós mesmos;
  • Não espere a motivação vir de fora, pois ela é um estado interno. A motivação para trabalhar vem do conhecimento de nosso proósito, do sentido de nosso trabalho;
  • Temos que construir ativamente nossa vida e carreira. Almejar um trabalho do qual gostamos e que tenha propósito e valor é bom e importante, mas temos que buscaar isso ativamente. Temos que ser autores de nossa própria vida, pois assim ela tem propósito.
Não espere encontrar respostas aqui, pois este não é um livro de respostas, mas de pensamentos. As respostas, por mais clichê que isso soe, estão dentro de cada um de nós e são construídas individualmente por cada um.

O autor é Mario Sergio Cortella, filósofo, professor universitário e ex-secretário de educação da cidade de São Paulo (1991-1992), tendo trabalhado junto com Paulo Freire. Não tinha familiaridade com ele, mas parece que suas outras obras tem algumas indagações filosóficas mais pungentes. Talvez no futuro procure ler outros de seus trabalhos.

Minhas considerações finais são que este não é um livro extraordinário e provavelmente não vai responder às suas indagações profundas. Tem algumas pinceladas de auto-ajuda e de filosofia, mas nada muito profundo (esperava um pouco mais). Contudo, é uma leitura fácil e rápida que pode fazer você repensar sobre suas motivações e sobre sua relação com o trabalho.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Você já leu...? Repeteco


 Repeteco

Quadrinhos são muito mais que super heróis de colante ou garotos de cabelos espetados salvando o mundo. Que tal uma chef de cozinha descontente com sua vida e que quer abrir seu próprio restaurante?

Essa é a premissa inicial de Repeteco, a mais recente graphic novel de Bryan Lee O'Malley, famoso pela série Scott Pilgrim. Ela foi lançada em 2014, mas chegou apenas em 2016 ao Brasil.

Misturando elementos fantasiosos a uma história aparentemente comum e personagens cativantes e muito, muito humanos, Repeteco é uma obra fantástica. Sucintamente e sem spoilers, a trama é a seguinte: Katie é uma chef de cozinha competente mas insatisfeita com seu trabalho atual no restaurante "Repeteco". Seu sonho é ter seu próprio restaurante, coisa que ela já está providenciando, mas alguns empecilhos surgem em seu caminho - entre eles, consequências de decisões antigas que ainda a atormentam. Contudo, após alguns acontecimentos inusitados, Katie descobre que ganhou algumas segundas chances para literalmente corrigir erros do passado.

A arte de O'Malley traz muito da estética do mangá japonês, com olhos grandes, faces expressivas e dinamismo. Porém, seus traços esbanjam estilo próprio e passam longe de ser uma mera cópia ou simplismo, transmitindo energia e sentimentos com desenvoltura. Também destaco o trabalho com as cores, fortes e intensas, como a trama.

O'Malley tem sua forma característica de contar histórias, sempre com bom humor, um pouco sarcástico, introspectivo, mas dramático quando preciso. Sinto que tanto a narrativa quanto a arte estão mais maduros e sensíveis que em Scott Pilgrim. Enquanto neste haviam inúmeras referências à cultura pop e videogames, em Repeteco parece que o próprio autor amadureceu, e são os sentimentos e os dilemas da protagonista que movem a narrativa. Aliás, são justamente os personagens, com suas qualidades e defeitos, tão humanos e carismáticos, que tornam esta obra tão cativante.

A tradução, que ficou a cargo de Érico Assis, é primorosa. A atenção aos detalhes, à informalidade que é o tom geral e à história como um todo trazem uma naturalidade e fluidez na leitura que difícilmente encontrei em outras obras. Foi um trabalho muito bom mesmo.

Li críticas em relação à tradução do título: no original em inglês, a obra é intitulada "Seconds". Contudo, esse nome nada tem a ver com "segundos", no conceito de tempo. Seconds, nesse caso, é quando repetimos um prato, depois de terminamos de comer o primeiro. Nesse caso, "Repeteco" é, em minha opinião, um ótimo título, ainda mais levando-se em consideração toda a história.


Em suma, gostei muito de Repeteco e recomendo fortemente!